O feminismo nosso de cada dia

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Não sou de escrever textos sérios, muito menos sobre feminismo. Fui criada por duas mulheres (minha mãe e minha avó), em uma casa que moravam 4 mulheres (além delas, eu e minha bisavó) e apenas um homem (meu irmão caçula).

Durante muitos anos da minha adolescência as decisões e ordens vinham de duas mulheres e eram elas que decidiam e resolviam tudo em casa. Sempre achei normal que as mulheres estivessem no comando. Desde pequena, fui independente. Ia pra onde queria, voltava do colégio sozinha. Viajava com os primos. Quando tirei carteira de motorista, no mesmo dia sai de carro sozinha. O que isso tem a ver? Sempre cuidei de mim, com a ajuda da minha mãe e avó.

Acho que isso é um sinal de feminismo: crescer e ter sua independência respeitada. Depois de um tempo passei a morar só com a minha mãe e irmão – e minha cachorra. Novamente, as regras vinham de uma mulher e com muita democracia. Mais tarde, voltei a morar com minha avó, apenas ela e eu, e aprendemos juntas a nos respeitar. Isso porque ela era uma senhora de 70 e tanto anos e eu uma jovem de 20 e poucos.

Novamente, minha avó se mostrou mais evoluída que muita menininha da minha idade. Ela passou a aceitar que eu saísse a noite e dormisse fora. Ela comprava minha pílula anticoncepcional (algumas vezes) e chegou a ir na minha ginecologista pra pegar meus exames. Sem medo! Sem esconder que eu era uma mulher sexualmente ativa, minha avó aprendeu a lidar com isso. Passou aceitar que meu namorado dormisse lá em casa. Isso também é feminismo, vindo de uma senhora que foi criada em outra geração. Ela nunca aceitou minhas tatuagens e meu estilo diferente, mas sabe que eu moro – sem casar – com meu namorado. Tanto minha mãe, quando minha avó não me cobram casamento, nem filhos – apesar isso ser uma possibilidade.

Sendo assim, nós três conseguimos viver em um mundo em que os homens são tidos como maioria (no campo das decisões) e nos tornamos chefes (de nossa casa e no nosso trabalho – eu e minha mãe). Claro, que minha avó tem medo que eu faça certas coisas sozinhas por conta da violência. Porém, eu sempre explico pra ela que não tem como eu deixar de fazer certas, pois não tenho como ter uma escolta 24 horas.

Hoje, posso dizer que me tornei de certa forma independente e busco resolver minhas coisas. Tenho meu namorado marido, que me dá força, mas somos uma parceria e não “ajudante” um do outro, Obrigada a essas mulheres que construíram o feminismo, sem que percebesse, no meu dia a dia. Enfim, claro, que a luta por direitos iguais vai muito mais além, mas se em casa formos tratadas como pessoas iguais, no mundo, poderemos esperar direitos iguais.